segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Jovens Peregrinos

Depois de um sono reparador, a luz opaca do dia chuvoso entrou pela janela do sótão perto das oito da manhã. Despertamos com um irresistível cheiro do pão que estava sendo assado, vindo da cozinha do hotel. A chuva dera uma trégua e nos preparamos para sair. Após o café da manhã, nosso programa incluía a missa na Basílica, às 10 h. Antes de descermos as escadas voltamos a ouvir o cantar vibrante dos escoteiros - como já sabíamos – em direção, novamente, à Basílica. E os grupos foram se repetindo.
Saímos em direção à igreja e subimos a rampa rapidamente,  engrossando um pequeno grupo que fazia o mesmo. Agora podíamos admirar a grandiosidade da Basílica, patrimönio histórico da Unesco e construida no século XI. Considerada uma obra prima da arte romana borguinhona, resistiu a varias guerras e é importante ponto dos romeiros da Europa no trajeto de Santiago de Compostela. Fica no topo da colina e ao fim da única rua principal do vilarejo medieval,  onde estáo íncrustradas no cháo as conchas de metal que marcam as rotas para Compostela. 




 No alto da colina, próximo à Basílica, podíamos ouvir os cânticos dos jovens. Quando, finalmente, entramos na igreja, numa espécie de ante sala, nos deparamos com uma cena incomum: centenas de mochilas e barracas amontoados pelas paredes e pelos cantos. No seu interior, a imensa Basilica estava completamente tomada. Nesse momento, tivemos a compreensão exata do que são os 2.500 escoteiros mencionados na noite anterior pela dona do restaurante Auberge de la Coquille, onde fomos na noite anterior. 


Caminhamos muito, por toda a extensão da igreja, até encontrarmos um lugar nas laterais para nos acomodar e acompanhar a missa. Às vezes tínhamos a impressão de que Camila e eu éramos as únicas mulheres, tal a quantidade de homens ali. Mas logo percebemos que também havia muitas mães e parentes dos rapazes. Ficamos numa das capelas laterais, a de Santa Tereza e até conseguimos umas cadeiras. Era a missa de encerramento e em Ação de Graças da 37ª Peregrinação dos Escoteiros de toda a Europa. Há dias aqueles jovens estavam acampados em diferentes pontos das imediações de Vèzelay, de onde saiam, como na noite anterior, com seus cajados e bandeiras, para a Basílica. (E a roupa de alguns bem que mostravam isso). Agora estavam se despedindo da cidade, com toda a carga de mochilas e barracas acomodada na igreja.






A missa "d'action de grace"  foi concelebrada por vários padres, em francês. Foi  acompanhada de lindos cânticos, em cada passagem, nas vozes vibrantes de dois corais formados e regidos por escoteiros, divididos ao longo da gigantesca nave.





Emocionante assistir aquela multidáo de jovens em oração. Rezando ou cantando, com seus vozeirões ecoando pela Basilica, demonstravam todo o fervor e fé com que estavam ali reunidos. Jovens como todos os outros (víramos alguns fumando antes da missa, brincando, outros de cabelos imensos presos em coque no alto da cabeça...) mas carregados de religiosidade e, certamente, bons valores, pelo simples fato de estarem ali. Uma energia muito forte se podia sentir durante toda a missa, que durou quase duas horas. Agradeci a Deus por participar de um momento táo especial e rezei para todos da minha família e meus amigos. Difícil se repetir, acredito, uma emoção como aquela. Pois, em algum momento, imaginei cada um daqueles jovens como uma sementinha, pronta a sair dali e disseminar bons valores para onde fossem. Então senti uma esperança no futuro, como há muito eu náo sentia.  



Na tarde desse dia tivermos tempo de conhecer um pouco mais o belo lugarejo que, pela serenidade transmitida pelas colinas e campos foi o refúgio de vários artistas. Um privilégio ter conhecido essa deliciosa cidade num momento táo especial.












Deixamos Vezelay numa manhá de sol, rumo a Beaune, ainda na Bourgogne.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia amigos!!! E agora se juntaram a nós peregrinos, afinal acompanhar uma cerimônia de fim de peregrinação numa cidade que faz parte do Caminho de Santiago não é para muitos!!! Adorei os seus posts, mas preferi comentar este que tem tudo a ver comigo. Essa concha dourada que viram no chão é realmente um símbolo de fé e persistência. Buen camino! bjs. Célia Maciel