sábado, 22 de dezembro de 2012

Firenze: em estado de graça.

Firenze é de lavar a alma. O perfil dos seus prédios no horizonte, com suas torres longas ou arredondadas, têm um quê de melancolia - e misericórdia - que nos transporta a um universo único.

Chegamos desta vez a Firenze - reta final de nossa viagem antes de Alemanha, onde passaremos o Natal - sem as grandes pretensões de outras vezes quando estivemos ali, ansiosos por percorrer as belas cidades da regiáo, a Toscana. Desta vez não. Queríamos ficar só em Firenze, num ritmo mais lento e tranquilo. Mas tínhamos pelo menos uma meta clara: visitar a Academia, e conhecer a escultura original de David, a obra prima de Michelângelo. Instalados, assim que nos sentimos descansados, fomos à Academia e nos encantamos com a escultura de Michelângelo, de uma beleza plástica e sensorial indescritíveis. O ar de "inocência inteligente" no semblante de David após ter matado Golias, sem qualquer traço de vaidade, impressiona quem se aproxima da escultura há séculos - seja estudiosos ou pessoas comuns como nós.  E, o mais interessante, é saber que David foi esculpido num bloco dado a Michelângelo por acaso, "para ser feito alguma coisa", após ter ficado sem aproveitamento por mais de ano perto da Catedral de Firenze. 


Além de David, pudemos visitar, na Academia - o que foi uma surpresa para mim - salas e salas com exemplares belíssimos da arte bizantina, que tenho uma admiração especial. Giotto, seus seguidores e contemporâneos, interpretavam de maneira belíssima, nos séculos XII e XIII , várias passagens do Evangelho. A Anunciação do Anjo à Virgem e a Madonna com Jesus ao colo, parecem ser os temas prediletos desses mestres, nas pinturas com seu dourado característico, com molduras em formato de igreja. Belas, atraem o olhar admirado que se prende em cada uma delas, em tantas, de diversos tamanhos -  com tanto encantamento, que a visita se torna um quase ritual religioso, de admiração e respeito.
Num outro momento em Firenze, visitamos, a Basilica de Santa Croce, onde ainda não tínhamos ido e que nos pareceu uma das mais belas da cidade, monumental, toda em mármore branco e verde, semelhante à Catedral e o Duomo, na arquitetura típica floretina.  É uma das mais antigas da ordem Franciscana na Itália. E ali se guarda, como relíquia, uma parte de túnica usada por São Francisco de Assis - que emociona ao se olhar.

A Basílica franciscana de Santa Croce, em cujos anexos funcionam
 escola de música e de escola de gravação em couro. 
Pintura bizantina que compõe o altar da Basílica da Santa Croce (cujo altar passa por restauração),  juntamente com um crucifixo de Giotto

 Nas laterais da nave principal da "Santa Croce" há várias telas e esculturas de mestres da arte clássica. Mas o que mais nos impressionou ali foi o túmulo de Michelângelo numa das laterais, ocupando toda a altura da parede. Executado por vários artistas florentinos, a obra inclui um busto em mármore de Michelângelo - que faleceu aos 89 anos em 1864 - e três belíssimas esculturas em mármore branco representando as três artes:  a Arquitetura, a Escultura e a Pintura, em estado de lamentação pela perda do seu grande mestre, um dos maiores gênios das artes de todos os tempos, Michelângelo Buonarotti.


Vários artistas foram reunidos para criar as diferentes partes do túmulo de Michelângelo.


Gostamos muito de visitar a Basílica de Santa Croce - onde está também sepultado Galileu Galilei - finalizada num belíssimo páteo que transpira paz em cada ângulo, com o delicioso perfume vindo dos cipestres no jardim, onde os pássaros faziam uma sonora algazarra.


Nos dias de sol e céu azul - na verdade só choveu na segunda-feira no período em que ficamos em Firenze, de sábado a quarta-feira - bom mesmo é percorrer suas "vias", pelos imensos blocos de pedras ali plantados há mais quase dois mil anos - a cidade foi fundada em 59 A.C.-  e chegou ao apogeu nos séculos XII e XIII.


Vias e ruelas* ladeando paredes onde nunca falta um detalhe artístico ou apenas harmonioso, seja na fachada, nas janelas, nas luminárias, nas ferragens...sempre muito trabalhadas, como numa busca incansável do belo.


A exemplo de outras vezes, optamos por ficar próximos da Igreja de Santa Maria Novela e da Estação ferroviária com o mesmo nome.( Dali podemos nos locomover de trem para outras cidadezinhas da Toscana - embora isso náo estivesse no programa agora). Entáo caminhamos por Firenze. Passamos pela praça de Santa Maria Novela e vamos em direção da Via Del Moro - onde ficamos no ano passado.

Dali logo ganhamos a ponte sobre o rio Arno. Atravessamos a ponte e, ladeando a outra margem, caminhamos até a Ponte Vecchio, que nos leva ao páteo da Galeria Ufizzi e Pálácio Vecchio - onde está a réplica de David desde que o original foi levado  à Academia no século passado.




Emblemática, a Ponte Vecchio sempre convida para uma foto

O Palacio Vecchio...


    ...com detalhes da fachada, incluindo a réplica de David.

 E vamos admirando a arquitetura. Paredes que acompanham o ritmo daquelas vias há séculos e séculos - do movimento e galope dos cavalos aos motores dos veículos modernos que compõe o dia a dia na cidade do primeiro mundo. Uma harmonia que o intenso comércio não conseguiu interferir.



Na elegante Firenze, há lojas de todos os gêneros de diversas partes do mundo, expondo o que há de mais novo no universo da moda e em outros setores. Mas no patrimönio histórico tombado pela Unesco, as lojas mais famosas têm que se adequar,
 sem publicidade nas fachadas.

Seguimos pelas ruelas com decoração de Natal e alcançamos o Duomo e a Catedral, onde sempre paramos para admirar a beleza da composição em mármore branco e verde. Dali descemos, pela Via Del Cazaioli até a Via Del Pansani, sentindo ora o perfume que vem de dentro das lojas, ora o aroma das castanhas assadas, ora o cheiro de café que vem de alguma pasticeria por perto. Aromas que, no frio a arder na pele do rosto, alimenta os sentidos e aquece a alma. Firenze é isso. Firenze da religiosidade e das artes, que ilumina nosso espírito e liberta nossa alma. Deixamos Firenze em estado de graça. 


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